sexta-feira, 24 de julho de 2009

Mrs. Dalloway (Virginia Woolf)



"E com quem falava ele? indagou Sally. Quem era aquele homem de aspecto tão distinto? Vivendo no deserto, como dizia, tinha uma insaciável curiosidade de saber quem eram as pessoas. [...]
- Mas que fez ele? - indagou Sally. Beneficiência, supunha. E eram felizes os dois? indagou Sally (ela era extremamente feliz); pois, admitia, nada sabia deles, apenas saltava às conclusões, como se faz: pode-se acaso saber alguma coisa, mesmo da gente com quem se vive todos os dias? indagou. Não somos todos uns prisioneiros? Lera uma peça maravilhosa a respeito de um homem que escrevia na parede de sua cela, e ela achava que essa era a verdade da vida: a gente escrevia coisas na parede. Desprezada das relações humanas (eram tão difíceis as pessoas), fora muitas vezes ao jardim, receber das suas flores uma paz que os homens e as mulheres não lhe davam nunca. Mas não; ele não gostava de legumes; preferia as criaturas humanas, dizia Peter. Na verdade, os jovens são belos, disse Sally, vendo Elizabeth atravessar o salão. Como era diferente de Clarissa, na sua idade! Poderia ele tirar alguma coisa dela? Ela não abria os lábios. Não muito, ainda não, pelo menos, admitiu Peter. Era como um lírio, disse Sally, um lírio à beira de um pântano. Mas Peter não concordava em que não se pudesse saber nada. Sabe-se tudo, afirmava; ele, pelo menos, sabia."

(Trad. Mário Quintana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.)


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